quarta-feira, 20 de maio de 2020

GRAVURA DIGITAL - ZÈCÉSAR - EXPOSIÇÃO VIRTUAL

PAINT – CAOS URBANO E GRAVURA DIGITAL

Na impossibilidade de uma exposição em uma galeria ou museu – por conta desse grave período de pandemia e recolhimento em que ora vivemos – me proponho a realizar aqui nesse espaço uma “exposição virtual” de meus trabalhos de gravura digital, aos quais já há algum tempo me dedico e, nesse momento, pelas circunstâncias, mais ainda.
Levo para o paint minha experiência de gravador: ‘plasmar uma imagem em uma superfície/matriz e imprimir sobre o papel mais adequado’. No caso da ‘gravura digital’ não há uma matriz física. A imagem digital, produzida no computador, é a matriz em potencial. Uma imagem criada para ser impressa e gerar uma edição – uma tiragem uniforme. Não há um trabalho de entalhe ou ácidos, mas a realização de um desenho com as ferramentas que o programa dispõe – que frente aos programas profissionais de tratamento de imagens parecem limitadas – mas oferecem uma gama imensa de possibilidades que o aprofundamento em seu universo permite descobrir e explorar.
Além do desenho realizado diretamente com o manuseio do mouse, que requer domínio da mão e do gesto, a criação de figuras geométricas, linhas retas e curvas, distorções, alongamentos, multiplicação, cortes, recortes, são possibilidades e ingredientes que se adéquam precisamente à temática urbana que exploro – a multiplicação e sobreposição de edifícios, o verticalismo, o caos urbano.
            Há, ainda, outras possibilidades de exploração, como partir de um desenho feito à mão em papel, com lápis ou caneta, escaneá-lo e retrabalhá-lo, com aquelas possibilidades citadas. O desenho serve apenas como um ponto de partida, mas não será o de chegada, será outra coisa, outra imagem, outra possibilidade. Igualmente, se pode partir de uma fotografia e proceder de maneira similar, interferir nas cores e tonalidades, nas formas, na composição, nas proporções... etc. Teremos, não mais uma fotografia/documento, mas uma imagem nova, que pode ter pouco a ver com o referencial, criada com os recursos do programa, o paint, e a mão/criação do artista-gravador.
            Cabe, finalmente, escolher o papel, papéis convencionais para gravura ou outro nas dimensões que se queira. As impressões podem ser feitas em impressoras caseiras (jato de tinta) em papéis A-4, gramatura 120 ou 180. Ou em impressoras digitais com pigmento mineral, processo conhecido como fine art, em papel 100% algodão.
            Nesse momento me proponho expô-los aqui e agora, virtualmente, e em outro momento, fisicamente, em uma sala de exposições adequada, quando o fim da quarentena em que estamos e devemos viver o permita.




Paint 2020 (1) (desenho em paint sobre fotografias) 


 Paint 2020 (3) (a partir de fotografia)





Paint 2020 (5) (a partir de fotografia)



Paint 2020 (6) (a partir de fotografia)



Paint 2020 (8) (a partir de desenho escaneado)



Paint 2020 (10) (a partir de desenho escaneado)



Paint 2020 (12) (a partir de fotografias)


Paint 2020 (13) (a partir de fotografias)


Paint 2020 (16) (desenho direto em Paint)


Paint 2020 (16) (desenho direto em Paint)


Paint 2020 (20) (a partir de desenho escaneado)



 Paint 2020 (21) (a partir de desenho escaneado)


Paint 2020 (23) (a partir de desenho escaneado)


Paint 2020 (28) (a partir de fotografia)


Paint 2020 (29) (a partir de fotografia)


Paint 2020 (31) (desenho direto no paint)


Paint 2020 (32) (a partir de fotografia)


Paint 2020 (33) (a partir de desenho escaneado)


Paint 2020 (34) (desenho direto no Paint)


Paint 2020 (35) (a partir de fotografia de grafite na parede do ateliê)


Paint 2020 (39) (a partir de desenho escaneado)



terça-feira, 14 de abril de 2020

PROJETOS I-REALIZÁVEIS



Ninguém acende uma candeia e a coloca em lugar onde fique escondida, nem debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-a num local apropriado, para que os que entram na casa possam ver seu luminar’ (Lucas, 11:33). Uma lâmpada serve para iluminar, assim como uma obra de arte. A arte é feita para ser vista, olhada, ‘lida’, apreciada, avaliada, valorizada, conhecida, observada, meditada, usufruída, não pode estar escondida sob uma mesa, ou, por exemplo, guardada dentro de uma gaveta de mapoteca.
Meu objetivo nesses apontamentos [texto, documento, registro] é fazer um levantamento das exposições em potencial que eu tenho em mãos, algumas talvez, mais que nas mãos, na cabeça. Em princípio eu intitulei essa listagem de ‘i-realizáveis, ou não’. À medida que as fui relacionando pensei que não seriam necessariamente irrealizáveis, a sua possível não-concretização aconteceria provavelmente por falta de tempo, falta de apoio ou de espaço disponível, ou mesmo, disposição. Mas não deixei de descrevê-las, considerando que o seu registro, por si só, poderia ser sua exposição.
Depois de iniciar essas mal digitadas linhas caiu-me nas mãos o livro de Aline Dias, ‘O trabalho com(o) fracasso’[i] em que ela relata uma série grande de projetos, trabalhos e exposições, seus e de diversos artistas brasileiros e estrangeiros, que nunca chegaram a ser realizados, não passaram do papel ou de uma ideia. Alguns eram possivelmente irrealizáveis, outros por motivos diversos não chegaram a concretizar-se e, ainda, alguns o foram muito posteriormente, anos depois, e, às vezes, modificados ou com outros conceitos.
Para falar de fracasso, acho importante incluir: o que não foi feito; o que ainda não foi feito; do que se desistiu; o que se adia, se protela, se esquiva; o que não deu certo; o que é muito difícil; o que é impossível; o que é impossível num determinado momento e contexto; o que foi rejeitado ou censurado ou recusado; o que não se consegue começar; o que não de pode começar; o que é interminável; o que não se pode terminar.[ii]  (Dias, 2013, p.2)
Dizer que ‘tenho em mãos’ significa que já tenho trabalhos prontos (ou quase) em número e qualidade, e conteúdo, que eu julgo suficientes para ocupar um espaço expositivo qualquer (não qualquer um, claro). E ‘na cabeça’ significa que poderia reunir alguns trabalhos dispersos ou algumas ideias em formação, sob alguns conceitos, com o mesmo objetivo.


1.     Instalação DESOCUPAÇÃO


Em 2010, realizei na Galeria da FAV uma instalação intitulada ‘Ocupação’. Sua proposta foi realizar com papelões de caixas de embalagens ‘representações da cidade’, criar a ideia de grandes cidades, seu crescimento, a ocupação desordenada do espaço urbano. Cobri toda uma parede de nove por quatro metros de extensão e altura, com papelões ‘gravados’ com incisões feitas com estilete. Em outra parede havia uma ‘reprodução’ em papelão de uma parte de um mapa de Goiânia. Nas outras duas haviam trabalhos diversos, também, claro, em papelão. No centro da sala havia uma ‘mesa’ de quatro metros, cheia de caixas ou formas tridimensionais que sugeriam edifícios para serem manipulados pelo público presente, de modo a formarem livremente as cidades que quisessem.
A proposta da presente instalação é a de promover uma ‘ação contrária’: a retirada dos trabalhos que representavam/apresentavam/sugeriam/simulavam uma cidade e sua substituição por uma representação ou simulação da natureza, com os mesmos materiais: os papelões. A desocupação da cidade!
A instalação consiste na realização de um trabalho ainda maior do que o anterior: cobrir todas as quatro paredes da galeria com papelões, que somente serão trabalhados depois de sua fixação nas paredes.
Os papelões seriam trabalhados com incisões, in loco, com a ajuda de escadas para alcançar os lugares mais altos. Mas, diferentemente das ‘cidades’, são mais rasgados do que cortados. Os estiletes são usados apenas para cortes iniciais, para propiciar o levantamento de arestas, que são então retiradas arrancando, puxando e rasgando com as mãos. Assim, irregularmente, mas não necessariamente de modo aleatório, criando desenhos/simulacros de árvores – de tal modo que toda galeria lembraria o ambiente de um bosque.
Os pedaços retirados, à medida que são arrancados, são atirados diretamente ao solo. A intenção é que ali permaneçam durante toda a exposição, para serem pisados pelos visitantes, como se fossem folhas secas que se espalham pelo chão das matas.
[A dúvida com relação a esse trabalho é se seria realizado ou somente constaria uma descrição de sua realização, com se houvera sido feito. Uma descrição-não realização teria como objetivo (ou seria objeto) brincar (não sei se seria a palavra exata – vamos usar por enquanto até que descubra outra mais apropriada) com as comunicações de congressos ou em livros que tratam de trabalhos de artistas em que quase não constam fotografias – registros visuais – dos trabalhos, chegando a nos deixar pensar que não foram realmente realizados].


 Vista geral da exposição (simulação)




 Vista de uma das paredes da galeria (simulação)


2.     FOTOMETRÓPOLIS

Eu fotografo esporadicamente. Entre minhas fotos estão vistas urbanas, edifícios ou conjuntos de edifícios e paisagens emolduradas por edifícios. Não tenho, porém, uma preocupação documental. No momento da realização da foto me preocupo mais com o encanto da fotografia, o enquadramento, a expressividade. Tenho cada vez mais incorporado a fotografia como uma linguagem artística a mais, entre os meus processos de trabalho, embora eu careça de mais informações sobre suas técnicas.
Tenho retrabalhado algumas dessas fotos no computador, com ferramentas primárias de computação, (com programas simples como Windows Live Galeria de Fotos e/ou Microsoft Office Picture Mannager ou Paint). Algumas fotografias são apenas ligeiramente ‘corrigidas’ – não sei se seria o nome correto – ao acentuar ou reduzir a luminosidade, clarear ou escurecer a foto, ou refazer a composição, fazer pequenos (ou grandes) cortes para ‘melhorar’ sua composição. Tudo sem desfazer ou alterar a imagem original, de modo que permita até que sejam identificados.
Outras, por outro lado, (cheguei a catalogá-las com a sigla FD – fotografias digitais), são trabalhadas de forma mais radical – interferindo nas cores, nas dimensões, em proporções, etc. –tirando-lhe até um pouco de sua característica de fotografia, transformando-as quase em uma gravura ou algo semelhante. A idéia é um pouco essa – de dar-lhe alguma semelhança com a gravura ou uma dessemelhança com a fotografia – mas não uma idéia muito obsessiva – pode parecer ou não uma foto ou outra coisa, também não importa tanto. Busco uma originalidade qualquer, ou, talvez, uma certa individualidade.
Como complemento dessa ideia, os trabalhos seriam impressos em papel de algodão, ou similar. Tem-se utilizado a expressão ‘prints’ – nome que eu acho que não define do que realmente se trata – para designar a impressão em computador de fotografias em papéis diferentes e não a conhecida ampliação tradicional em papel fotográfico.
A exposição ‘Fotometrópolis’, seria composta de uma seleção de em torno de trinta trabalhos – vai depender da sala expositiva disponível e da expografia adequada - impressos em um tamanho em torno de oitenta centímetros de altura ou comprimento, seu lado maior.


fd 8c 121


fd 14 BH 2009 068


fd 23 Brasília 2011 (12)


fotos Goiânia (2) C


São Paulo 013 A


São Paulo 002 A


2012 Goiânia arco iris 3



Brasília julho 2012ª



3.     PUERTAS, JANELAS, VENTANAS. – fotografias

Puertas, janelas, ventanas. Cidades de Goiás, Pirenópolis, Marvão, Évora, Mérida, Havana, México, Cuernavaca. Brasil, Portugal, Espanha, Cuba, México. Se os olhos são a janela da alma, seriam as janelas os olhos da alma? Mostra ou esconde. Mistérios, segredos, intimidades. Escancaram-se para a rua, para a realidade, vê, olha, percebe, capta. Revela, desvela, vela. Guarda, resguarda.
De dentro da janela se vê o lá fora. Vê-se a vida passando. Os carros, os cães e gatos, as pessoas, anônimos e gente conhecida. Se vê por uma fresta, cumprimenta-se, ou não.
De fora, se pode ver algo de dentro, se estiver aberta. Vê-se, de passagem, pedaços, instantes, relampejos, móveis, pessoas, sombras. Segredos, talvez, intimidades. Vê-se, se intui, se imagina.
Ou não se vê, se estão fechadas, se imagina, se intui, se advinha. E se pergunta: o que existe ou acontece por trás dessas portas ou dessas janelas? Quem vive nessa casa, o que fazem as pessoas que vivem aí?!
Na faixa quatro do CD ‘Sudaka’ de Ramiro Musotto, intitulada Botellero, ao fundo de uma trilha sonora muito diversificada, há uma voz sampleada nas ruas de Bahia Blanca, de um comprador de ferro-velho que fala ao megafone, em castelhano, monotonamente, insistentemente, repetidamente: “botelhas, metales, puertas, ventanas, tirantes, mantas, cobijas, cubrecamas, Botellero...”
Relembrando a canção, me surpreendi, cantando, repetindo parte do insistente refrão, mas metendo-lhe no meio, inconscientemente, uma palavra em português: “puertas, janelas, ventanas”... daí veio o título da série de fotografias que iniciei numa viagem de férias em Portugal e Espanha, de casarios coloniais, de telhados, janelas e portas. Depois vieram outras viagens: México, Cuba, e as cidades do interior de Goiás: a antiga capital, Goiás, e Pirenópolis.
As fotografias seriam expostas impressas em papel algodão ou similar, num tamanho máximo de oitenta centímetros.

Pirenópolis 2015 (16)


Cuba 09.02.15 Havana (39)


Portugal Évora 2013 (52A)


Espanha Mérida 2013 (97)


 Goiás 2014 (105)


4.     PUERTAS, JANELAS, VENTANAS – papelões.

Essa exposição se comporia de janelas e portas ‘gravadas no papelão’, inspiradas nas fotografias feitas nas cidades coloniais ou medievais citadas anteriormente – Portugal, Espanha, México, Cuba, Brasil.
Utilizando a técnica ou a experiência de meu trabalho de recorte, incisões e colagens em papelão de caixas de embalagens da série Metrópolis, recrio essas janelas e algumas portas. Não são reproduções – mesmo pela dificuldade ou impossibilidade, pela diferença de materiais, da transposição fiel de imagens fotográficas. Não há nem mesmo uma busca de semelhanças, a proposta é quase uma releitura, é recortar e registrar, com toda liberdade, no papelão, a peculiaridade do desenho de janelas ancestrais.
Não resisti ao desafio de plasmar no papelão imagens destas janelas que tanto me chamaram a atenção. Reproduzi-las, sem preocupação de fidelidade, dá um prazer lúdico, apesar de muitas vezes consumir um tempo precioso e uma paciência infinita. As janelas ou portas receberam o título supracitado – puertas, janelas, ventanas - acrescido do nome do país ou da cidade que as inspiraram, acreditando que assim podem trazer reminiscências, lembranças, segredos, ou mesmo, remeter àquela cultura.


Puertas, janelas, ventanas - Goiás (1)


Puertas, janelas, ventanas - México


Puertas, janelas, ventanas - Goiás


Puertas, janelas, ventanas - Goiás


5.     CAIXINHAS/CASARIOS COLONIAIS

Proposta de uma exposição composta de trabalhos representando casas, feitos em caixas de computadores/notebooks ou de teclados – portanto, trabalhos tridimensionais – de tamanhos aproximadamente trinta por quarenta ou quarenta por cinqüenta, por quinze centímetros (altura, comprimento e largura).
Foram ‘gravadas’ nessas caixas portas e janelas baseadas nas janelas fotografadas na Cidade de Goiás, antiga capital do Estado, de forma que remetessem a seus casarios coloniais – sem, claro, qualquer pretensão de ‘reprodução’ fiel da realidade ou de uma determinada casa, apenas simulacros.
Cada caixinha é uma casa.  O que significa que se poderia até pensar em uma proposta de montagem que simulasse uma cidade. Mas não necessariamente. São um total de quinze caixas-casas.


Goiás 2


Goiás 4


Goiás 9


Goiás 11



6.     CAIXINHAS/CIDADES

Cidades montadas dentro de caixinhas, não é um trabalho novo dentro da série Metrópolis, apareceram na primeira exposição que realizei com trabalhos em papelão[i]. Desde o início da série foram realizadas algumas, e foram recentemente retomadas – se é que se pode dizer que alguma vez foram abandonadas – com um sentido lúdico e, talvez, com alguma diferenciação em sua execução.
Cidades encaixotadas. De certa forma a expressão remete ao crescimento desordenado das cidades, das metrópoles superpovoadas, da qualidade de vida da cidade grande, das favelas ou de bairros repletos de edifícios sem espaço adequado de circulação.
São recortadas e coladas como um quebra cabeça, formas como de portas, janelas, prédios e casas, dentro de caixas de tamanhos ou formatos diversos (não maiores que cinqüenta centímetros) – caixas encontradas, embalagens de diversos materiais.
Essa exposição poderia também se juntar à anterior, e compor com ela uma única exposição.




1.


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7.     GRAVURAS: LITOGRAFIA A SECO

Tenho desenvolvido, desde o início do ano de 2014, uma pesquisa com o processo da 'litografia a seco'. É um procedimento desenvolvido por um artista canadense Nick Semenoff, muito utilizado no México pelo artista mexicano Raul Cabello, professor na Universidad Nacional Autónoma de México, onde aprendi os rudimentos que me permitiu explorá-lo no ateliê da Faculdade de Artes Visuais da UFG, até o momento.
A litografia a seco consiste na realização de um processo litográfico em uma chapa de ofsete granitada, em que não se utiliza água como no processo tradicional em pedra. Aplica-se sobre a chapa desenhada uma camada fina de silicone. O silicone é que repele a tinta, permitindo que somente a imagem seja entintada.
Em geral as matrizes foram realizadas com mais de uma técnica combinadas. Mas, me vali da experimentação de transferência de fotocópias de fotografias de edifícios feitas por mim ou mesmo de xerox de propagandas imobiliárias, complementadas com o uso de lápis 6B, caneta Bic ou tonner. E, também, com a interferência de uma imagem de uma árvore (ou árvores), desenhadas ou pintadas com pena e pincel, com goma arábica. Fiz também algumas experiências com desenho com ponta seca e mini retífica sobre a chapa coberta com uma camada de silicone. O resultado é uma qualidade de linha muito fina, muito limpa, semelhante a um trabalho a buril. A mini retífica produz um resultado muito solto.
Realizei ainda algumas impressões com duas chapas de desenhos diferentes sobrepostas, em geral uma imagem de árvores sobre imagens de edifícios, ou vice versa, como uma forma de fazer um contraponto entre a aridez da cidade e a natureza.


Litografia a seco


Litografia a seco
Litografia a seco

Litografia a seco



8.      GRAVURAS: EXPERIMENTOS EM MATERIAIS DIVERSOS

      Essa exposição deve se compor de algumas de minhas mais recentes experiências em gravura, entre os anos de 2013 e 2015, além da litografia a seco, em suportes diversos, tais como pisos, forros,  MDF, etc.
      Investigo distintos materiais para fazer gravura, materiais muitas vezes encontrados ao acaso, que me permitem trabalhá-los e imprimi-los. Procuro neles o que eles podem me oferecer tecnicamente ou plasticamente. Desde sua textura – natural ou artificial – à sua maciez ou dureza para incisões. Busco as possibilidades de trabalho que me permitem. Alguns facilitam os trabalhos de incisões com goivas, formões, pontas, buris e berçôs, permitindo o traçado de linhas ou de confecção de texturas. Outros possibilitam a realização de manchas através do uso de corrosão com solventes ou com calor, ou, ainda, a adição, com colagens ou soldas.
   Os últimos experimentos, em que pude me debruçar por algum tempo, realizados nesses últimos dois anos e pouco, foram matrizes confeccionadas em papelão paraná ou Duratex com verniz acrílico transparente e pigmentos ou carborundum, blocos de gesso utilizados para forro, paviflex, pisos de pvc e a litografia a seco. Experimentos díspares, resultados muito distintos, muitas possibilidades; em alguns, linhas finas e delicadas; em outros, texturas ou impressões pictóricas.


Gravura com verniz acrílico transparente - 2013

Gravura em piso de PVC


 Gravura em piso de PVC

Gravura em Paviflex - 2015



9.     CADERNOS DE RABISCOS

São pequenos cadernos de desenho, blocos de nota, que carrego sempre comigo, que me acompanham no dia a dia, levo para reuniões (que na Universidade não são poucas) que me ajudam na concentração, para prestar atenção ao que eu estou ouvindo. Carrego também em viagens.
Desenho meio compulsoriamente, sem compromisso, sem objetivo, senão manter as mãos ocupadas, criar alguma coisa, concentrar-me e distrair-me. Não se pode dizer que são propriamente anotações, porque, em geral, não são desenhos de observação, são exercícios livres, feitos em sua maior parte com esferográficas bic, azul ou preta. Poucas vezes, cores. Não são datados nem têm títulos e às vezes levam algumas anotações.
Nunca tive nenhum objetivo com eles, não funcionam como projetos para gravura ou trabalhos em papelão. Divirto-me produzindo hachuras, texturas, diferentes tipos e intensidades de linhas, luz e sombra, perspectivas não convencionais. Embora absolutamente não os conceba como esboços ou projetos, creio que se pode notar sua influência nas gravuras, tanto nas linhas a buril produzidas nas matrizes de gesso ou paviflex, quanto nos desenhos à ponta seca ou com esferográficas nas chapas de ofsete da lito a seco.
São inúmeros cadernos cheios, não menos do que trinta, embora eu nunca os tenha contado, alguns na estante do ateliê, outros em casa, e alguns na FAV. Poderiam ser expostos em pedestais ou mesas, distribuídos aleatoriamente pela sala de exposição, para serem manuseados pelos visitantes.

Desenho – caneta bic – sem data


 Desenho – caneta bic – sem data

 

Desenho – caneta bic – sem data


Desenho – caneta bic – sem data





1O.     LIVROS DE ARTISTA

      Meus ‘livros de artistas’ estão mais na cabeça que no papel, apesar do sério propósito de realizá-los.
      Algumas gravuras pequenas – que fogem ao formato ou tamanho que tenho trabalhado mais recentemente – encadernadas ou impressas lado a lado, com alguma superposição ou não, fazendo gravuras compridas e estreitas.
      Alguns trabalhos de cerca de um metro de comprimento por vinte ou trinta de altura, gravados em retalhos, sobras de corte – matrizes de ripas de madeira ou de papelão pinho – que foram impressas em ‘tiras’ de papel arroz, que poderiam ser ‘dobradas’ e encadernadas artesanalmente em capa dura ou acondicionadas dentro de caixas de papel ou papelão.
      Tenho outras ideias mais, em gestação, como, entre outras, gravuras feitas em borrachas escolares, contendo tanto cidades quanto janelas, que podem vir encadernadas ou em folhas soltas, como postais.
      Tenho ainda – em princípio, já pronto, terminado, embora de vez em quando eu lhe acrescente uma página mais – um livro intitulado ‘Música popular poesia brasileira’, em que presto uma homenagem a compositores/letristas brasileiros. Selecionei alguns versos de músicas brasileiras que considero verdadeiras ‘pérolas’ de nossas canções e as ‘compus graficamente’. Foram trabalhos realizados no computador, em ‘paint brush’, iniciado nos anos dois mil e pouco, um total de cinquenta páginas. Pensei em fazer uma publicação por alguma editora, mas devido à dificuldade de conseguir realizá-la, fiz, por hora, uma publicação caseira, isto é, imprimi em meu próprio computador (impressora HP 840C) um único volume e fiz uma encadernação artesanal.



Monotipia - 2013


Gravura em gesso - 2011


Xilogravura - 2011


  Trabalho em Paint - 2003




11.     TRABALHOS NUNCA EXPOSTOS

      Essa proposta seria quase uma retrospectiva: reunir trabalhos de várias épocas que, por motivos diversos, nunca participaram de nenhuma exposição. Seja por excesso de trabalhos, seja por fugirem ao tema ou ao conceito da exposição, seja por não ter acontecido uma exposição nesse período.  Nesse último caso inclui-se, por exemplo, uma centena de pequenas gravuras feitas durante o meu Doutorado – parte de minha tese – experimentos em diferentes tipos de plásticos, realizadas com uma preocupação preponderantemente técnica, sem compromisso com um tema, conceito ou unidade – ainda que não possa se identificar neles, ou em muitos deles, a minha poética, o meu trabalho, minhas preocupações, mesmo que inconscientemente.
      Numa tal exposição se incluiriam, além de gravuras, desenhos antigos, pastéis secos e a óleo, aquarelas esquecidas em pastas, provas de gravuras coloridas à mão, monotipias (quase) desprezadas, estudos descomprometidos, gravuras digitais feitas no paint e sei lá o que mais... mesmo por terem ficado perdidos dentro de uma gaveta ou no interior de uma pasta.
      Não seria difícil vasculhar meus arquivos para encontrá-los, será difícil conseguir fazer uma seleção deles. Teriam várias fases, várias técnicas, vários temas, tamanhos variados e, em comum, teriam, talvez, apenas minha mão, meus princípios, minhas buscas e inquietações. Seria interessante reuni-los para ver o que, quem sabe, poderiam dizer sobre mim ou meu percurso... Como diz o poema ‘Peças’ de Wilson Pereira:
            O poema                                                                                       
é jogo de montar                                                                                       
    a esmo:                                                                                       

o leitor, co-autor                                                                                        
 tem de buscar as peças                                                                                        
               em si mesmo.[iv]                                                                                      

      Não sei se eu me atreveria a fazer essa seleção ou pediria a algum(a) colega que o fizesse por mim. Só poderia adiantar que tem muita coisa, muitos trabalhos... o que viria corroborar uma assertiva minha de que ‘podem falar qualquer coisa sobre meus trabalhos, só não podem falar que eu não trabalho’.


 Gravura em plástico – 1995
Gravura em plástico – 1994
 
Gravura em plástico – 1995


 Colagravura – da série Metrópolis – 2011


Monotipia – 2011


 Gravura em metal – 1990
 Gravura em metal – 1990

 Serigrafia – 1990

colagravura – da série Metrópolis – 2011 


Desenho – 2011









[i] Dias, Aline. O trabalho com(o) fracasso. Florianópolis: Corpo, 2013.
[ii] Idem.

[iii] Individual – ‘Metrópolis’  trabalhos em papelão – Galeria de Arte Contemporânea Marina Potrich – Goiânia – Goiás – 15/jun a 12/jul/2004
        [iv] PEREIRA, Wilson e NEPOMUCENO, Antonio. Reflexo do Tempo. Brasília, Edição dos autores, 2012.