‘Ninguém
acende uma candeia e a coloca em lugar onde fique escondida, nem debaixo de uma
vasilha. Ao contrário, coloca-a num local apropriado, para que os que entram na
casa possam ver seu luminar’ (Lucas, 11:33). Uma lâmpada serve para iluminar, assim como uma obra de
arte. A arte é feita para ser vista, olhada, ‘lida’, apreciada, avaliada,
valorizada, conhecida, observada, meditada, usufruída, não pode estar escondida
sob uma mesa, ou, por exemplo, guardada dentro de uma gaveta de mapoteca.
Meu objetivo nesses apontamentos [texto,
documento, registro] é fazer um levantamento das exposições em potencial que eu
tenho em mãos, algumas talvez, mais que nas mãos, na cabeça. Em princípio eu
intitulei essa listagem de ‘i-realizáveis, ou não’. À medida que as fui relacionando
pensei que não seriam necessariamente irrealizáveis, a sua possível não-concretização
aconteceria provavelmente por falta de tempo, falta de apoio ou de espaço disponível,
ou mesmo, disposição. Mas não deixei de descrevê-las, considerando que o seu
registro, por si só, poderia ser sua exposição.
Depois de iniciar essas mal digitadas
linhas caiu-me nas mãos o livro de Aline Dias, ‘O trabalho com(o) fracasso’[i] em que
ela relata uma série grande de projetos, trabalhos e exposições, seus e de
diversos artistas brasileiros e estrangeiros, que nunca chegaram a ser
realizados, não passaram do papel ou de uma ideia. Alguns eram possivelmente
irrealizáveis, outros por motivos diversos não chegaram a concretizar-se e,
ainda, alguns o foram muito posteriormente, anos depois, e, às vezes,
modificados ou com outros conceitos.
Para falar de fracasso, acho importante
incluir: o que não foi feito; o que ainda não foi feito; do que se desistiu; o
que se adia, se protela, se esquiva; o que não deu certo; o que é muito
difícil; o que é impossível; o que é impossível num determinado momento e
contexto; o que foi rejeitado ou censurado ou recusado; o que não se consegue
começar; o que não de pode começar; o que é interminável; o que não se pode
terminar.
[ii] (Dias, 2013, p.2)
Dizer que ‘tenho em mãos’ significa
que já tenho trabalhos prontos (ou quase) em número e qualidade, e conteúdo,
que eu julgo suficientes para ocupar um espaço expositivo qualquer (não
qualquer um, claro). E ‘na cabeça’ significa que poderia reunir alguns
trabalhos dispersos ou algumas ideias em formação, sob alguns conceitos, com o
mesmo objetivo.
1. Instalação DESOCUPAÇÃO
Em 2010, realizei na Galeria da FAV
uma instalação intitulada ‘Ocupação’. Sua proposta foi realizar com papelões de
caixas de embalagens ‘representações da cidade’, criar a ideia de grandes
cidades, seu crescimento, a ocupação desordenada do espaço urbano. Cobri toda
uma parede de nove por quatro metros de extensão e altura, com papelões
‘gravados’ com incisões feitas com estilete. Em outra parede havia uma
‘reprodução’ em papelão de uma parte de um mapa de Goiânia. Nas outras duas
haviam trabalhos diversos, também, claro, em papelão. No centro da sala havia
uma ‘mesa’ de quatro metros, cheia de caixas ou formas tridimensionais que
sugeriam edifícios para serem manipulados pelo público presente, de modo a formarem livremente as cidades que quisessem.
A proposta da presente instalação é a
de promover uma ‘ação contrária’: a retirada dos trabalhos que representavam/apresentavam/sugeriam/simulavam
uma cidade e sua substituição por uma representação ou simulação da natureza,
com os mesmos materiais: os papelões. A desocupação da cidade!
A instalação consiste na realização
de um trabalho ainda maior do que o anterior: cobrir todas as quatro paredes da
galeria com papelões, que somente serão trabalhados depois de sua fixação nas
paredes.
Os papelões seriam trabalhados com
incisões, in loco, com a ajuda de escadas para alcançar os lugares mais altos.
Mas, diferentemente das ‘cidades’, são mais rasgados do que cortados. Os
estiletes são usados apenas para cortes iniciais, para propiciar o levantamento
de arestas, que são então retiradas arrancando, puxando e rasgando com as mãos.
Assim, irregularmente, mas não necessariamente de modo aleatório, criando
desenhos/simulacros de árvores – de tal modo que toda galeria lembraria o
ambiente de um bosque.
Os pedaços retirados, à medida que são
arrancados, são atirados diretamente ao solo. A intenção é que ali permaneçam durante
toda a exposição, para serem pisados pelos visitantes, como se fossem folhas
secas que se espalham pelo chão das matas.
[A dúvida com relação a esse trabalho
é se seria realizado ou somente constaria uma descrição de sua realização, com
se houvera sido feito. Uma descrição-não realização teria como objetivo (ou
seria objeto) brincar (não sei se seria a palavra exata – vamos usar por
enquanto até que descubra outra mais apropriada) com as comunicações de
congressos ou em livros que tratam de trabalhos de artistas em que quase não
constam fotografias – registros visuais – dos trabalhos, chegando a nos deixar
pensar que não foram realmente realizados].
Vista geral da
exposição (simulação)
Vista de uma
das paredes da galeria (simulação)
2. FOTOMETRÓPOLIS
Eu
fotografo esporadicamente. Entre minhas fotos estão vistas urbanas, edifícios
ou conjuntos de edifícios e paisagens emolduradas por edifícios. Não tenho, porém,
uma preocupação documental. No momento da realização da foto me preocupo mais
com o encanto da fotografia, o enquadramento, a expressividade. Tenho cada vez
mais incorporado a fotografia como uma linguagem artística a mais, entre os
meus processos de trabalho, embora eu careça de mais informações sobre suas
técnicas.
Tenho
retrabalhado algumas dessas fotos no computador, com ferramentas primárias de
computação, (com
programas simples como Windows Live
Galeria de Fotos e/ou Microsoft
Office Picture Mannager ou Paint). Algumas fotografias são apenas ligeiramente
‘corrigidas’ – não sei se seria o nome correto – ao acentuar
ou reduzir a luminosidade, clarear ou escurecer a foto, ou refazer a
composição, fazer pequenos (ou grandes) cortes para ‘melhorar’ sua composição.
Tudo sem desfazer ou alterar a imagem original, de modo que permita até que
sejam identificados.
Outras, por outro lado, (cheguei
a catalogá-las com a sigla FD – fotografias digitais), são trabalhadas de forma
mais radical – interferindo nas cores, nas dimensões, em proporções, etc. –tirando-lhe
até um pouco de sua característica de fotografia, transformando-as quase em uma
gravura ou algo semelhante. A idéia é um pouco essa – de dar-lhe alguma
semelhança com a gravura ou uma dessemelhança com a fotografia – mas não uma
idéia muito obsessiva – pode parecer ou não uma foto ou outra coisa, também não
importa tanto. Busco uma originalidade qualquer, ou, talvez, uma certa individualidade.
Como complemento dessa
ideia, os trabalhos seriam impressos em papel de algodão, ou similar. Tem-se utilizado a expressão ‘prints’
– nome que eu acho que não define do que realmente se trata – para designar a impressão
em computador de fotografias em papéis diferentes e não a conhecida ampliação
tradicional em papel fotográfico.
A exposição ‘Fotometrópolis’, seria
composta de uma seleção de em torno de trinta trabalhos – vai depender da sala
expositiva disponível e da expografia adequada - impressos em um tamanho em
torno de oitenta centímetros de altura ou comprimento, seu lado maior.
fd 8c 121
fd 14 BH 2009
068
fd 23
Brasília 2011 (12)
fotos Goiânia
(2) C
São Paulo 013
A
São Paulo 002
A
2012 Goiânia
arco iris 3
Brasília
julho 2012ª
3. PUERTAS, JANELAS, VENTANAS. – fotografias
Puertas, janelas, ventanas. Cidades
de Goiás, Pirenópolis, Marvão, Évora, Mérida, Havana, México, Cuernavaca. Brasil,
Portugal, Espanha, Cuba, México. Se os olhos são a janela da alma, seriam as
janelas os olhos da alma? Mostra ou esconde. Mistérios, segredos, intimidades.
Escancaram-se para a rua, para a realidade, vê, olha, percebe, capta. Revela,
desvela, vela. Guarda, resguarda.
De dentro da janela se vê o lá fora.
Vê-se a vida passando. Os carros, os cães e gatos, as pessoas, anônimos e gente
conhecida. Se vê por uma fresta, cumprimenta-se, ou não.
De fora, se pode ver algo de dentro,
se estiver aberta. Vê-se, de passagem, pedaços, instantes, relampejos, móveis,
pessoas, sombras. Segredos, talvez, intimidades. Vê-se, se intui, se imagina.
Ou não se vê, se estão fechadas, se
imagina, se intui, se advinha. E se pergunta: o que existe ou acontece por trás
dessas portas ou dessas janelas? Quem vive nessa casa, o que fazem as pessoas
que vivem aí?!
Na faixa quatro do CD ‘Sudaka’ de
Ramiro Musotto, intitulada Botellero, ao fundo de uma trilha sonora muito
diversificada, há uma voz sampleada nas ruas de Bahia Blanca, de um comprador
de ferro-velho que fala ao megafone, em castelhano, monotonamente,
insistentemente, repetidamente: “botelhas, metales, puertas, ventanas,
tirantes, mantas, cobijas, cubrecamas, Botellero...”
Relembrando a canção, me surpreendi,
cantando, repetindo parte do insistente refrão, mas metendo-lhe no meio,
inconscientemente, uma palavra em português: “puertas, janelas, ventanas”...
daí veio o título da série de fotografias que iniciei numa viagem de férias em
Portugal e Espanha, de casarios coloniais, de telhados, janelas e portas.
Depois vieram outras viagens: México, Cuba, e as cidades do interior de Goiás:
a antiga capital, Goiás, e Pirenópolis.
As fotografias seriam expostas
impressas em papel algodão ou similar, num tamanho máximo de oitenta
centímetros.
Pirenópolis
2015 (16)
Cuba 09.02.15
Havana (39)
Portugal
Évora 2013 (52A)
Espanha
Mérida 2013 (97)
Goiás 2014
(105)
4. PUERTAS, JANELAS, VENTANAS – papelões.
Essa exposição se comporia de janelas
e portas ‘gravadas no papelão’, inspiradas nas fotografias feitas nas cidades
coloniais ou medievais citadas anteriormente – Portugal, Espanha, México, Cuba,
Brasil.
Utilizando a técnica ou a experiência
de meu trabalho de recorte, incisões e colagens em papelão de caixas de
embalagens da série Metrópolis, recrio essas janelas e algumas portas. Não são
reproduções – mesmo pela dificuldade ou impossibilidade, pela diferença de
materiais, da transposição fiel de imagens fotográficas. Não há nem mesmo uma busca
de semelhanças, a proposta é quase uma releitura, é recortar e registrar, com
toda liberdade, no papelão, a peculiaridade do desenho de janelas ancestrais.
Não resisti ao desafio de plasmar no
papelão imagens destas janelas que tanto me chamaram a atenção. Reproduzi-las,
sem preocupação de fidelidade, dá um prazer lúdico, apesar de muitas vezes
consumir um tempo precioso e uma paciência infinita. As janelas ou portas
receberam o título supracitado – puertas,
janelas, ventanas - acrescido do nome do país ou da cidade que as
inspiraram, acreditando que assim podem trazer reminiscências, lembranças,
segredos, ou mesmo, remeter àquela cultura.
Puertas,
janelas, ventanas - Goiás (1)
Puertas,
janelas, ventanas - México
Puertas,
janelas, ventanas - Goiás
Puertas,
janelas, ventanas - Goiás
5. CAIXINHAS/CASARIOS COLONIAIS
Proposta de uma exposição composta de
trabalhos representando casas, feitos em caixas de computadores/notebooks ou de teclados –
portanto, trabalhos tridimensionais – de tamanhos aproximadamente trinta por
quarenta ou quarenta por cinqüenta, por quinze centímetros (altura, comprimento
e largura).
Foram ‘gravadas’ nessas caixas portas
e janelas baseadas nas janelas fotografadas na Cidade de Goiás, antiga capital
do Estado, de forma que remetessem a seus casarios coloniais – sem, claro,
qualquer pretensão de ‘reprodução’ fiel da realidade ou de uma determinada casa,
apenas simulacros.
Cada
caixinha é uma casa. O que significa que
se poderia até pensar em uma proposta de montagem que simulasse uma cidade. Mas
não necessariamente. São um total de quinze caixas-casas.
Goiás 2
Goiás 4
Goiás 9
Goiás 11
6. CAIXINHAS/CIDADES
Cidades montadas dentro de caixinhas,
não é um trabalho novo dentro da série Metrópolis, apareceram na primeira
exposição que realizei com trabalhos em papelão[i]. Desde o
início da série foram realizadas algumas, e foram recentemente retomadas – se é
que se pode dizer que alguma vez foram abandonadas – com um sentido lúdico e,
talvez, com alguma diferenciação em sua execução.
Cidades encaixotadas. De certa forma
a expressão remete ao crescimento desordenado das cidades, das metrópoles
superpovoadas, da qualidade de vida da cidade grande, das favelas ou de bairros
repletos de edifícios sem espaço adequado de circulação.
São recortadas e coladas como um
quebra cabeça, formas como de portas, janelas, prédios e casas, dentro de
caixas de tamanhos ou formatos diversos (não maiores que cinqüenta centímetros)
– caixas encontradas, embalagens de diversos materiais.
Essa
exposição poderia também se juntar à anterior, e compor com ela uma única
exposição.
1.
9.
13.
7. GRAVURAS: LITOGRAFIA A SECO
Tenho desenvolvido, desde o início do
ano de 2014, uma pesquisa com o processo da 'litografia a seco'. É um procedimento
desenvolvido por um artista canadense Nick Semenoff, muito utilizado no México
pelo artista mexicano Raul Cabello, professor na Universidad Nacional Autónoma
de México, onde aprendi os rudimentos que me permitiu explorá-lo no ateliê da
Faculdade de Artes Visuais da UFG, até o momento.
A litografia a seco consiste na
realização de um processo litográfico em uma chapa de ofsete granitada, em que
não se utiliza água como no processo tradicional em pedra. Aplica-se sobre a
chapa desenhada uma camada fina de silicone. O silicone é que repele a tinta,
permitindo que somente a imagem seja entintada.
Em geral as matrizes foram realizadas
com mais de uma técnica combinadas. Mas, me vali da experimentação de
transferência de fotocópias de fotografias de edifícios feitas por mim ou mesmo
de xerox de propagandas imobiliárias, complementadas com o uso de lápis 6B, caneta Bic ou
tonner. E, também, com a interferência de uma imagem de uma árvore (ou árvores),
desenhadas ou pintadas com pena e pincel, com goma arábica. Fiz também algumas
experiências com desenho com ponta seca e mini retífica sobre a chapa coberta
com uma camada de silicone. O resultado é uma qualidade de linha muito fina,
muito limpa, semelhante a um trabalho a buril. A mini retífica produz um
resultado muito solto.
Realizei ainda algumas impressões com
duas chapas de desenhos diferentes sobrepostas, em geral uma imagem de árvores
sobre imagens de edifícios, ou vice versa, como uma forma de fazer um
contraponto entre a aridez da cidade e a natureza.
Litografia a
seco
Litografia a
seco
Litografia a
seco
Litografia a
seco
8. GRAVURAS: EXPERIMENTOS EM MATERIAIS DIVERSOS
Essa
exposição deve se compor de algumas de minhas mais recentes experiências em
gravura, entre os anos de 2013 e 2015, além da litografia a seco, em suportes diversos,
tais como pisos, forros, MDF, etc.
Investigo distintos
materiais para fazer gravura, materiais muitas vezes encontrados ao acaso, que
me permitem trabalhá-los e imprimi-los. Procuro neles o que eles podem me
oferecer tecnicamente ou plasticamente. Desde sua textura – natural ou
artificial – à sua maciez ou dureza para incisões. Busco as possibilidades de
trabalho que me permitem. Alguns facilitam os trabalhos de incisões com goivas,
formões, pontas, buris e berçôs, permitindo o traçado de linhas ou de confecção
de texturas. Outros possibilitam a realização de manchas através do uso de
corrosão com solventes ou com calor, ou, ainda, a adição, com colagens ou soldas.
Os últimos experimentos,
em que pude me debruçar por algum tempo, realizados nesses últimos dois anos e
pouco, foram matrizes confeccionadas em papelão paraná ou Duratex com verniz
acrílico transparente e pigmentos ou carborundum, blocos
de gesso utilizados para forro, paviflex, pisos
de pvc e a litografia a seco. Experimentos díspares, resultados muito distintos,
muitas possibilidades; em alguns, linhas finas e delicadas; em outros, texturas
ou impressões pictóricas.
Gravura com verniz acrílico transparente - 2013
Gravura em piso de PVC
Gravura em piso de PVC
Gravura em
Paviflex - 2015
9. CADERNOS DE RABISCOS
São pequenos cadernos de desenho, blocos de nota, que carrego
sempre comigo, que me acompanham no dia a dia, levo para reuniões (que na
Universidade não são poucas) que me ajudam na
concentração, para prestar atenção ao que eu estou ouvindo. Carrego também em
viagens.
Desenho meio compulsoriamente, sem compromisso, sem objetivo,
senão manter as mãos ocupadas, criar alguma coisa, concentrar-me e distrair-me.
Não se pode dizer que são propriamente anotações, porque, em geral, não são desenhos de
observação, são exercícios livres, feitos em sua maior parte com esferográficas
bic, azul ou preta. Poucas vezes, cores. Não são datados nem têm títulos e às
vezes levam algumas anotações.
Nunca tive nenhum objetivo com eles, não funcionam como
projetos para gravura ou trabalhos em papelão. Divirto-me produzindo hachuras,
texturas, diferentes tipos e intensidades de linhas, luz e sombra, perspectivas
não convencionais. Embora absolutamente não os conceba como esboços ou projetos,
creio que se pode notar sua influência nas gravuras, tanto nas linhas a buril
produzidas nas matrizes de gesso ou paviflex, quanto nos desenhos à ponta seca
ou com esferográficas nas chapas de ofsete da lito a seco.
São inúmeros cadernos cheios, não menos do que trinta, embora
eu nunca os tenha contado, alguns na estante do ateliê, outros em casa, e
alguns na FAV. Poderiam ser expostos em pedestais ou mesas, distribuídos aleatoriamente
pela sala de exposição, para serem manuseados pelos visitantes.
Desenho – caneta bic – sem data
Desenho – caneta bic – sem data
Desenho – caneta bic – sem data
Desenho – caneta bic – sem data
1O. LIVROS DE ARTISTA
Meus ‘livros de artistas’ estão mais
na cabeça que no papel, apesar do sério propósito de realizá-los.
Algumas gravuras pequenas – que fogem
ao formato ou tamanho que tenho trabalhado mais recentemente – encadernadas ou
impressas lado a lado, com alguma superposição ou não, fazendo gravuras
compridas e estreitas.
Alguns trabalhos de cerca de um metro
de comprimento por vinte ou trinta de altura, gravados em retalhos, sobras de
corte – matrizes de ripas de madeira ou de papelão pinho – que foram impressas
em ‘tiras’ de papel arroz, que poderiam ser ‘dobradas’ e encadernadas
artesanalmente em capa dura ou acondicionadas dentro de caixas de papel ou
papelão.
Tenho outras ideias mais, em
gestação, como, entre outras, gravuras feitas em borrachas escolares, contendo
tanto cidades quanto janelas, que podem vir encadernadas ou em folhas soltas, como
postais.
Tenho ainda – em princípio, já
pronto, terminado, embora de vez em quando eu lhe acrescente uma página mais –
um livro intitulado ‘Música popular poesia brasileira’, em que presto uma
homenagem a compositores/letristas brasileiros. Selecionei alguns versos de
músicas brasileiras que considero verdadeiras ‘pérolas’ de nossas canções e as
‘compus graficamente’. Foram trabalhos realizados no computador, em ‘paint
brush’, iniciado nos anos dois mil e pouco, um total de cinquenta páginas. Pensei em fazer uma publicação por alguma editora,
mas devido à dificuldade de conseguir realizá-la, fiz, por hora, uma
publicação caseira, isto é, imprimi em meu próprio computador (impressora HP 840C) um único volume e fiz uma encadernação artesanal.
Monotipia -
2013
Gravura em
gesso - 2011
Xilogravura -
2011
Trabalho em Paint - 2003
11. TRABALHOS NUNCA EXPOSTOS
Essa proposta seria quase uma
retrospectiva: reunir trabalhos de várias épocas que, por motivos diversos,
nunca participaram de nenhuma exposição. Seja por excesso de trabalhos, seja
por fugirem ao tema ou ao conceito da exposição, seja por não ter acontecido
uma exposição nesse período. Nesse
último caso inclui-se, por exemplo, uma centena de pequenas gravuras feitas
durante o meu Doutorado – parte de minha tese – experimentos em diferentes
tipos de plásticos, realizadas com uma preocupação preponderantemente técnica,
sem compromisso com um tema, conceito ou unidade – ainda que não possa se
identificar neles, ou em muitos deles, a minha poética, o meu trabalho, minhas
preocupações, mesmo que inconscientemente.
Numa tal exposição se incluiriam,
além de gravuras, desenhos antigos, pastéis secos e a óleo, aquarelas
esquecidas em pastas, provas de gravuras coloridas à mão, monotipias (quase)
desprezadas, estudos descomprometidos, gravuras digitais feitas no paint e sei lá o que mais... mesmo por
terem ficado perdidos dentro de uma gaveta ou no interior de uma pasta.
Não seria difícil vasculhar meus
arquivos para encontrá-los, será difícil conseguir fazer uma seleção deles.
Teriam várias fases, várias técnicas, vários temas, tamanhos variados e, em
comum, teriam, talvez, apenas minha mão, meus princípios, minhas buscas e
inquietações. Seria interessante reuni-los para ver o que, quem sabe, poderiam
dizer sobre mim ou meu percurso... Como diz o poema ‘Peças’ de Wilson Pereira:
O poema
é jogo de montar
a esmo:
o leitor, co-autor
tem de buscar as peças
Não sei se eu me atreveria a fazer
essa seleção ou pediria a algum(a) colega que o fizesse por mim. Só poderia
adiantar que tem muita coisa, muitos trabalhos... o que viria corroborar uma
assertiva minha de que ‘podem falar qualquer coisa sobre meus trabalhos, só não
podem falar que eu não trabalho’.
Gravura em
plástico – 1995
Gravura em
plástico – 1994
Gravura em
plástico – 1995
Colagravura –
da série Metrópolis – 2011
Monotipia –
2011
Gravura em
metal – 1990
Gravura em
metal – 1990
Serigrafia –
1990
colagravura –
da série Metrópolis – 2011
Desenho –
2011
[i] Dias, Aline. O trabalho com(o) fracasso. Florianópolis: Corpo,
2013.
[ii] Idem.
[iii] Individual – ‘Metrópolis’ – trabalhos em papelão – Galeria de Arte Contemporânea Marina Potrich – Goiânia – Goiás – 15/jun a 12/jul/2004
[iv] PEREIRA, Wilson e NEPOMUCENO, Antonio. Reflexo do Tempo. Brasília, Edição dos autores, 2012.