domingo, 11 de março de 2012

Pesquisa em Arte - última parte

Pesquisa em materiais e poéticas visuais

               Há alguns anos já tenho trabalhado com papelões de caixas de embalagens, cortando, recortando, colando, fazendo incisões. Representando de alguma forma, sem preocupações muito realistas, o aglomerado das cidades, a sobreposição de edifícios, o caos urbano. Ao mesmo tempo tenho transformado em cidades um dos dejetos mais comuns do lixo urbano, a caixa de papelão. O que a cidade descarta eu transformo em sua representação. É um trabalho muito aproximado com os processos de gravura, no momento em que estão muito presentes os cortes e incisões no papelão, proveniente mesmo de minha prática e raciocínio de gravador. Esses trabalhos já renderam várias exposições e um livro de artista (Metrópolis, Goiânia, Editora da UFG, 2008. – Livro de Artista).
Recorte e colagem em papelão (50 x 120 cm)

Recorte e colagem em papelão (50 x 120 cm)
            Até esse momento não havia trabalhado com cores sobre os papelões. Exceções apenas a algumas caixas cuja embalagem tinha alguns elementos coloridos que me pareceu interessante aproveitar nas imagens criadas com ele. Mas eram apenas pequenos detalhes, que podiam ser significativos naquela imagem, mas que não constituíam um trabalho a cores. Ultimamente tenho trabalhado com pintura nos papelões.
            Mas a idéia surgiu por outras vias. Recebi um convite – que tomei como um desafio – de pintar alguns instrumentos de percussão feitos por um fabricante de instrumentos artesanais profissionais. São tambores, usados em músicas populares brasileiras, como alfaias, zabumbas e caixas de folias, tamanhos variados, com cerca de um metro e meio de cilindro, por 40 a 60 centímetros de altura. Resolvi fazer nos tambores o mesmo motivo de minhas gravuras e papelões.
            Iniciei “desenhando” com fita crepe imagens de cidades nos tambores, recobrindo-os em seguida com tinta e, ao final, retirando as fitas, deixando a descoberto o desenho.

Alfaia pintada para o luthier Marco Aurélio (Dondim) - percussionista e fabricante artesanal de instrumentos profissionais de percussão

Alfaia

Caixa de folia
Transferi a idéia para os papelões, realizando o mesmo procedimento nos papelões, máscaras com fita crepe que depois da pintura são recortadas com estilete, deixando aparecer o desenho das imagens nas partes onduladas dos papelões. Dessa forma tenho realizado um trabalho muito mais pictórico, trabalhando com pincéis e rolinhos de espumas, e tinta acrílica transparente com pigmentos em pó.

Pintura e recorte em papelão - 2011 (60 x 100 cm)